terça-feira, 30 de abril de 2013

Eu-anjo




Fiz a dança do anjo. O que supostamente seria uma aula bem levezinha de biodanza acabou por me revelar uma fonte de energia – um anjo, que eu desconhecia haver em mim.

Sempre desejara ser mensageira do amor, ter essa capacidade de comunicar, de partilhar a imensa beleza, graça, vida de Deus, a fim de dar uma razão mais universal, fortalecer, entusiasmar os desapaixonados, os entristecidos, os desiludidos. Sempre quisera mostrar que os caminhos são múltiplos, as soluções são diversas, mas que o ato mais corajoso da humanidade é seguirmos o exemplo da radicalidade, da humildade, da sabedoria, da capacidade de amar os inimigos dado por Jesus. Alegra-me tanto ser “de Jesus” no meu nome próprio.

Apesar de saber que grande parte dos profetas não o foram nem o são devido ao seu saber académico, sempre me deixei afundar na busca do conhecimento, do perfecionismo, a qual me serviu de pretexto para o meu silêncio.

Mas, muito mais forte do que estas razões em jeito de desculpa, há um problema subjacente: o de não me sentir amada (à exceção de uma pessoa), e outro ainda mais profundo: o de não saber distinguir até que ponto a minha relação com Deus é baseada no desejo da sua existência ou efetivamente na assunção da mesma.

Relativamente ao primeiro ponto, importa destacar que me sei mas não me sinto amada, por considerar haver um grande desajuste entre o quererem-me bem e realizarem a sua concretização. E face a isto não sei até que ponto deverei duvidar da minha forma de amar, pois como poderei dar sem ter recebido? No entanto, creio que, para além do que me foi dado pessoalmente, há todo o ágape que acontece em meu redor, nas outras famílias, nos filmes, nos livros, na música e em cada nascimento de uma criança… que me inspirará (espero eu) para que faça melhor.

No entanto, são principalmente as minhas dúvidas acerca da existência de Deus que me retraem no lançamento dessa missão de ajudar a humanidade no seu processo de aproximação a Ele. Não é o mal do mundo que me faz questionar essa existência, pois enquanto mãe sei que não é sinal de amor pela minha filha extrair-lhe da vida todas as dificuldades, como se elas não fossem oportunidades para o seu desenvolvimento. Contudo, o meu problema talvez seja o de não entender por que razão Deus corre o risco de não ser amado e de não nos fazer amar, por não se dar a conhecer de modo tão evidente, que não nos restassem dúvidas a todos de que a coisa mais valiosa da nossa vida seria o ágape. 

Estou de acordo com Alain de Botton, quando, na sua Religião para Ateus, refere que a religião tem valores de tal forma imprescindíveis à humanidade que, mesmo que Deus não existisse, ela teria muito a ganhar com a sua vivência, razão pela qual defende deverem ser postos em prática.

Mas, assim, quase parece que acreditar não é essencial, o que pode ser suficiente para orientar a minha vida pessoal mas não o necessário para eu ter a audácia de comunicar a fé ao meu próximo.

Agora, o que me surpreendeu foi eu ter sentido que havia um anjo dentro de mim. Foi uma sensação provocada pela música, que cenestesicamente me transformou os braços em braços alados, sem penas, mas com uma estranha e nova energia, que ultrapassa o meu entendimento e me despertou esta vontade enorme de ser mensageira do amor.

Ainda não sei o que vou fazer com isto, mas seria bom que esta vivência frutificasse.

quarta-feira, 24 de abril de 2013

O meu olhar sobre o caos


 

A experiência do caos não é útil ou benéfica se for reduzida à desordem, mas se a percecionarmos como um campo prenhe de múltiplas possibilidades.

Ela amplia o nosso olhar, na medida em que soubermos descobrir e explorar novas relações.
Mas a sensação de perda de segurança, de controle trai-me na diluição necessária a esta vivência; faz-me ficar colada à racionalidade, apavorada com a ideia da imoralidade dos meus instintos.
Estou certa de que será na Biodanza que resgatarei a minha selva interior, aprendendo a olhar as manifestações instintivas como um voo para a exaltação da vida e da sua graça.

sábado, 20 de abril de 2013

A laranjeira




Plantei uma bela laranjeira, naquele canto do lado esquerdo da entrada do ginásio do Centro Escolar. Foi na primeira aula de criatividade da Biodanza.

Estava eu entretida a saborear a música, quando, quase sem dar por ela, os meus dedos começaram a mexer como se tocasse piano num tronco. Percebi logo que era o de uma nova laranjeira, porque já tinha plantado umas na praia e, ainda há poucos dias, me vira a comer umas cerejas debaixo de uma

A sua copa surgiu como uma bola nas minhas mãos e foi crescendo, tanto, tanto, que eu já quase não conseguia segurá-la. Foi por isso que a plantei ali mesmo ao lado. Estava carregadinha de laranjas, perfumada de verde e branco.
Não sei como, consegui chegar ao seu cume. Descobri nele umas fitas de seda, que davam para puxar. Davam mesmo para puxar à vontade, de tal forma, que peguei numa e fui até ao outro lado do ginásio, onde tinha plantado o jardim. Precisava de saber como é que as flores estavam, se tinham crescido bem e se haveria por lá ervas daninhas.  

Que maravilha - as flores radiantes eram já mais altas do que eu e ondulavam alegres pelo nosso reencontro. Maravilhadas, coloriram-me de cheiros e felicidade, no meu voo-passeio deslumbrante.

Voltei de novo à laranjeira e entrei no seu tronco, rodopiei e soltei um grito de júbilo.

Depois, apanhei uma laranja e dei-a à Cibele. Foi uma surpresa prazerosa, esta partilha de gomos doces e frescos de um fruto nascido da dança criativa.

quarta-feira, 17 de abril de 2013

Our Way








Eu queria tanto dançar um tango contigo.

Dizer-te que, para me seduzires, tens de confiar em ti, ser quem queres ser realmente, para eu me deslumbrar contigo. Porventura, esse deslumbramento poderia acontecer apenas, por me surpreenderes com mimos de murta, através da partilha da felicidade dos momentos comuns, mas bastaria para me evidenciar que não era preterida relativamente aos teus outros interesses.

Fundamentalmente, eu queria que me seduzisses, estando subjacente o saberes e quereres ser o homem certo para mim. Significaria isso que não te expunhas como perfeito, mas que acreditavas no teu caminho e que me convidavas a percorrê-lo contigo. Haveria arrependimento sobre a escolha de alguns trilhos, mas essa não seria a via principal; aliás, poderia ser mais um passo rumo a  um novo percurso.

E existindo essa aposta no nosso relacionamento, eu não me sentiria esmagada por tanto descontrole, impaciência, insegurança, não estaria sozinha na busca da alegria, nem perdida neste contágio de dores, que nos afogam os corpos e a alma.

No entanto, tudo parece depender de mim, da minha iniciativa, isto é, da minha sedução. E o meu problema é que desisti de percorrer caminhos até ti, porque muito do que encontro em ti não me traz paz. 

Por isso, ainda estamos muito longe de dançar um tango. Precisamos de descobrir o caminho para esse movimento sinestésico, visceral, que nasce de dentro de nós. Então, perceberemos por que as borboletas dos lençóis voam no nosso quarto e nos convidam a comer cerejas debaixo da laranjeira e as abelhas nos chamam ao jardim para nos vestirmos da terra aquecida pelas flores que tu e eu plantámos num dia verde.

Faz-me voar pelo teu olhar, meu amor.