segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Biodanza: a dança que dá vida

A dança - Matisse

A comunhão, a partilha de afeto, a alegria vivenciadas na biodanza são interpretadas por alguns como uma farsa, um teatro, uma palhaçada, que só acontece dentro do espaço e do tempo de cada aula, não tendo qualquer repercussão a nível interior e exterior.

Poderemos, à partida, concordar que a intensidade experienciada em cada dança e a profundidade estabelecida nas relações interpessoais não têm paralelo nas rotinas profissionais e sociais dos mesmos intervenientes. Esta diferença remete-nos para o reconhecimento de que somos um todo mais ou menos unificado de diversidades, as quais são exploradas e expostas consoante os contextos ou outros fatores que contribuam para tal. Portanto, o que eu faço num determinado espaço com uma pessoa, não tem de ser exatamente igual ao que faço noutro lugar nem com outras pessoas. Excluo aqui a situação dos trânsfugas, pois dada a sua incoerência moral, são pouco confiáveis, são um múltiplo que não conjuga nada e, por isso, difíceis de respeitar.

Por outro lado, pensar-se a vida como uma súmula de fatos lineares, previstos, certos, sem espaço para a loucura, é esquecer a nossa natureza. De acordo com Alain de Botton,( Bíblia Sagrada: Religião para Ateus, D. Quixote, 2012, pp. 63-66) “nos momentos mais sofisticados, as religiões aceitam a dívida que a bondade, a fé e a doçura têm para com os seus opostos”. Cita a Faculdade de teologia de Paris, que em 1445, defendia a parodia sacra “para que a loucura, que é a nossa segunda natureza e é inerente ao homem, possa esgotar-se livremente uma vez por ano”, de modo a garantir que, fora desse momento, as coisas corriam bem. Aqui, os homens eram comparados a barris de vinho que rebentavam se não fossem abertos. A moral que Botton retira desta festa dos Tolos é que “se queremos comunidades a funcionar bem, não podemos ser ingénuos em relação à nossa natureza”. Há que saber dar lugar ao caos para sabermos ser racionais e fiéis convictos.

Hoje em dia, a ciência põe em evidência esta sabedoria, pois segundo as palavras do meu cardiologista, as “dores de coração” devem-se a ter atingido um estado limite, sendo o meu próprio coração a avisar-me de que não gastei a adrenalina que foi gerada aquando das situações que li como perigosas. Parece que antigamente, os primeiros homens a libertavam naturalmente, através da caça e de outras atividades que realizavam. Mas nós habituámo-nos a acumulá-la, esquecendo a nossa natureza, violando-a, e por isso, é também natural que “rebentemos se não formos abertos”.

Ora, quem conhecer um pouco da Biodanza saberá que se propõe uma exploração desses gestos ancestrais, que, entre outros, nos permitirão libertar essa adrenalina acumulada de forma a sermos mais saudáveis. Poderá parecer uma brincadeira ou um teatro ser uma semente ou uma rã, mas envolve uma componente muito mais séria, pois ajuda a anular o esgotamento causado por tanto stresse, transformando-o numa capacidade de autogestão mais próxima do que é o ser humano.

Portanto, é bom que a biodanza tenha tanta festa! Somos os tolos que aceitam a sua natureza, mas não se deixam estagnar nem esmagar pela agonia do caos. Esta dança comporta dimensões de força e energia que acabarão por transbordar o espaço da aula e trazer uma vitalidade para a vida, que se verificará sobretudo naqueles que se deixarem perder dentro e com a música, para crescerem até onde a sua criatividade os levar. Significará isto, então que a dança da vida entrará nas nossas células e, porque nem tudo é consciente, pode muito bem estar presente em nós, mesmo que não o reconheçamos.

A biodanza é uma experiência artística comparável ou até mesmo superior a ver um quadro ou um filme ou a assistir a um teatro, porque é como sermos os atores, os protagonistas da nossa história, os pintores da nossa vida.

sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

Felicidade



A Biodanza faz-me dançar todo o dia, porque é uma filosofia. Danço quando corto, rasgo, rompo e salto para fora das minhas dores, das correias que me esmagam e crio jardins de mil flores.
É verdade! O ginásio do Centro Escolar tem lá plantado um magnífico jardim. Fiz a sementeira, há umas semanas, numa noite de Biodanza, em que lançámos projetos prá vida. Agora, trago papoilas e girassóis nas camisolas e no olhar e quero andar à chuva para me molhar.
Começo a aceitar os espinhos de uma roseira, que já crescia no jardim da minha vida. Tinha sido pássaro, mas esqueceu-se de voar, tornando-se um réptil frio. Mas agora, as suas pétalas parecem exalar um calor de sangue para eu beber.
Maravilho-me com pequenas coisas. Realmente, tudo se ilumina, quando queremos amar.
Quero dar beijos em sorrisos e deitar-me numa colina, contigo, sem pensar.
A Biodanza dá-me felicidade, vida… porque a trago prá vida!

terça-feira, 15 de janeiro de 2013

Jazz: o movimento da criação




O movimento do pensamento divergente
A raiz da criação
Uma brincadeira de sons desenhados
Pintados com o corpo nu
A voar pelo céu fora

A comunhão da liberdade
Uma confusão de linhas curvas e retas
Transmutadas em fantasias

O vento e o sol rasgados
A noite perfurada pelo brilho do olhar
Numa dança de sonhos doidos

Brincadeira feita na formação de artes 14-07-2020

sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

A dança dos abraços

Li o Espanta-Pardais da Rosa Colaço e fiquei fascinada com algumas expressões, pela sua ternura, força, verdade…

“(…) farto dos dedos quentes do sol, das mãos frias da chuva, do silêncio (…) de braços abertos a coisa nenhuma, destes braços que nunca abraçaram ninguém (…)” Ed. Vega, p.12
 

A dança dos abraços

Os abraços são um diagrama de Venn feito de flores
São viagens infinitas por estrelas doidas de calor
Os abraços unem o sangue, a pele, o suor
Fazem-nos entrar dentro dos corpos
Absorver e dar vida, força e amor
Levam-nos por espaços entrelaçados
Quebram correntes, distâncias, muros
Deixam-nos a pairar maravilhados
Em danças loucas de êxtase puro

Agradeço com um enorme abraço os abraços dados na biodanza.

terça-feira, 1 de janeiro de 2013

Eu


Gosto do olhar diverso
da vida, do amor, da razão 
Cresce em mim uma alegria
uma vontade imensa de ser
de voar
Sentir o corpo no mundo
abrir-me e acolher
ouvir uma canção
Largar a raiva ao vento
Sair do fundo do mar
E rebolar, aquecer
E perder-me num encontro
profundo