sábado, 29 de novembro de 2014

Nossas mãos



Tuas mãos
Fincam meu estômago
E em pé, sobre ti
No teu peito, eu me deito
Tombando em teu ombro
Minha cabeça deleito

Tuas mãos cheiram a poesia
Perfumam meus seios
De luz e alegria
Inundam de beleza
Minha pele rosada
Que fervilhava e te queria

Minhas mãos
Em teus cabelos
Criam rios de luar
E tu pegas nelas
Como se em mim toda
Entrasses junto ao mar
 
Minhas mãos
Têm o brilho do meu olhar
São radiantes borboletas
Em teus lábios
Em ti, meu esplendor
Que me levaste num cometa

Nossas mãos
Dançam serenas e firmes
Cantam nosso desejo
De paz e esplendor
Beijam-nos agradecidas
Envolvidas em amor

Nossas mãos
Trazem em si outros tempos
Do espaço desconhecido
Dão forma a novas vidas
Mais amplas, libertas
Maravilhadas e unidas

quinta-feira, 20 de novembro de 2014

Estar contigo sem estar





Insisto e persisto neste meu voo
De estar contigo sem estar
Vou descrevendo os nossos encontros
Imaginando o calor dos teus lábios
E o sabor deles no meu peito.
Perco-me contigo entre laranjeiras
Misturando areia e espuma do mar
Mas tu ficas sempre ausente
Desfazes-te sem eu te tocar

Tu já me lês e de tal forma me vives
Que minhas palavras são já tuas
Bebe-las de tal modo simpático
Que te tornas irresistível a meus olhos
Porque, assim, deixo de te ver
Com todas as necessárias contingências
E passas a ser eu em ti e não tu

Esta realidade que eu crio e te envio
Esta realidade que brota de mim como um rio
E me expande como um desafio
Conduz-me para além de mim
Ultrapassa o razoável e espanta-me
Deixa-me vulnerável e mais adiante
Fico nisto tudo perdida
Soltando meu afeto encarcerado
Vendo o seu tom desmedido
Pois o meu bem-querer fica escancarado
Com se eu não quisesse amadurecer
E provar o quanto tu tens de único para dar

Como posso eu sentir-te sem te conhecer
Amar-te sem te ver
Dar-me sem te mexer
Sem respirar os teus medos e anseios
Sem nos partilharmos
Sem nos vivermos
É como se o que eu expresso
Não fosse dirigido a ti
Mas a um ser imaginário
E isso deixa-me inconformada

Talvez  uma dança à chuva me salve
Me faça despertar deste delírio constante
Me dê a graça de juntar tuas mãos às minhas
E nossos seres se envolvam em alegria abundante
Então, aí, eu libertarei o meu fascínio por ti
Meu bem concreto, com tuas virtudes e defeitos,
Do jeito que tu és
E não mais terei de te sonhar
Nem ficar tremendo
Ansiando a felicidade do nosso encontro

segunda-feira, 3 de novembro de 2014

Teleonomia




Tuas mãos apertavam meu peito, envolvendo-me nos teus braços firmes. Sabias como eu, na noite anterior, devorara homens, num rito onde tu foras parte integrante. Por isso, nós não éramos nós, mas outros renascidos, transmutados.

Meu corpo alimentado e o teu ressuscitado envolviam-se agora grávidos do universo, festejavam a vida sagrada, banhada pela força da criação, que atualizávamos incorporando a alma coletiva.

Escutáramos quietos os murmúrios da terra e sentíramos o calor do Sol invadir-nos e ordenar-nos o nascimento dessa vida em círculos de esplendor. Quedámo-nos em serenas carícias, misturando nossos deliciosos cheiros naturais com a poeira das estrelas, sentindo-nos gratos pela multiplicidade, pela grandeza da existência.

Mas porque a entropia nos mata, chegou também o inexorável momento da minha partida para maravilhar e ser maravilhada no mundo: saí do teu colo doce e seguro e submergi nas águas mais profundas, aquelas de que sou feita, e rastejei, qual reptil ondulante até meus membros enlameados me soltarem para a terra, lançando-me numa corrida vertiginosa; e subitamente, estava plena de graça e eu, qual garça, voava pelo mundo fertilizando-o de alegria e esperança.

Por fim, ofegante de prazer, saltei para o teu confiante regaço. Vinha mais forte, mais mulher, mais bela, pois trazia em mim a teleonomia da vida e tu, meu astro sábio, envolveste-me numa simbiose que ficou inscrita nas minhas células ad aeternum.

Parte tu agora, meu bem, dissipa-te, interage e volta para eu saborear, autopoieticamente, a história do universo no teu corpo.

sexta-feira, 24 de outubro de 2014

Biodanza: de Caldas a Lisboa


"Pássaros, casas e flres" - Karla Gerard

A Biodanza faz-me dançar todo o dia, porque é uma filosofia da vida. Danço quando corto, rasgo, rompo e salto para fora das minhas dores, das correias que me atrofiam e crio jardins de mil flores.
É verdade! O ginásio do Centro Escolar de Caldas da Rainha tem lá plantado um magnífico jardim. Fiz a sementeira, há quase dois anos, numa noite de Biodanza, em que lançámos projetos prá vida. Agora, trago papoilas e girassóis nos vestidos e no olhar e quero andar à chuva até me molhar toda.
Levei-os ainda há pouco à cidade de Olisipo, para dançar numa escola, onde as ideias tecem laços com a música, fazendo brotar danças fantásticas de cavalos selvagens, pássaros sedutores e os nossos olhares ganham o brilho das estrelas.
Maravilho-me com a grandeza das pequenas coisas. Realmente, tudo se ilumina, quando nos descobrimos e nos encontramos com os outros.
A Biodanza dá-me felicidade, vida… porque renasço sempre outra e me entrego apaixonada à vida!