O meu peito dói tanto, que
me impede de respirar fundo. Foi invadido por uma tosse de frio e chuva, mas,
sobretudo, pelo acumular de outras dores, nascidas das infinitas possibilidades
de amar, que deixo ficar presas no vazio da ausência.
Mas as dores do peito não se
veem, nem impedem os sorrisos. O meu sorriso constante, feito do entusiasmo e
alegria, não abafou o pedido de socorro do meu olhar, esse grito mudo, que tu
soubeste ler. Por isso, propiciaste a coisa mais absolutamente necessária: as
lágrimas!
O choro é como a criação de
um espaço e um tempo novos, uma transfiguração em mar solto, em cada onda
repetido e renascido.
A tua voz meiga ecoou no meu
peito, embalou-me e abriu-me para a verdade, que ainda não consigo partilhar.
É curioso como foste
exatamente tu, meu amigo desconhecido, trazido pelo vento Norte, que te
atravessaste na minha dança da desventura e me deste a mão para eu não me desfazer
contra os muros no meu voo doido. É que tu não me conheces, não sabes mesmo
nada da minha história, não tens dados, pois eu decidi calar para o mundo
qualquer lástima.
Quero antes saborear a
alegria das coisas simples, contribuir para o desenvolvimento moral, ajudando a
integrar e considerar mais e mais perspetivas nas decisões; quero ser sobretudo
um raio de luz, que nos una, à imagem de Jesus.
Deverá ter sido a tua
própria experiência de dor, que te capacitou para o reconhecimento da dos
outros ou, então, porventura, a música da tua viola brilhou de um jeito
especial no teu coração e deu-te a graça de me envolveres com palavras tão
sinceras e acolhedoras. Obrigada, querido amigo.