Enlaço a tua cintura e parto contigo na lambreta. Os teus cabelos morenos brincam com os meus olhos e o meu lenço-raio dança com eles em paralelo. Levantamos as pernas, na descida, para voarmos até ao mar.
O Vilela não fez nada, perdido na sua eloquência sem emoção. Tu deixaste um raio de cometa, ao passares na rua com a tua lambreta e, noite fora, puxaste-me para a beira da esperança.
A lambreta é travada pela areia morna, onde rolamos até afogarmos os nossos sorrisos. Nasce um novo tempo, que transforma o espaço e faz nascer laranjeiras na praia. Desenhamos palavras quentes e doces com as sementes e as cascas das laranjas e passa-me a dor, que não me largava junto do Vilela.
Ele parte no seu carro rumo à segura rotina, esquecendo o seu barco à vela, onde nos poderíamos desvendar. Não soube dar-me a mão, olhar-me e entrar em mim, pois sempre teve medo de arriscar, de não ser perfeito, de me estragar ao fazer amor e, por isso, nunca o fez comigo.
Fazes parte de mim e eu de ti, meu homem-terra, errante, aventureiro tão jeitoso, que me desviaste da vida demasiado certa do Vilela.
Eu estou doida de alegria, por respirar-te e ser respirada, tocar-te e ser tocada, todo o dia. Dançamos por toda a parte, tanto, tanto, que mais se juntam a nós nas suas lambretas enfeitadas com papoilas e ramos de alecrim. A nossa felicidade transborda devagarinho e faz nascer mais laranjeiras à beira dos caminhos, nas pontes, nos jardins dos vizinhos, no cimo dos montes e sempre que me levas à praia.
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