Tuas mãos apertavam meu peito,
envolvendo-me nos teus braços firmes. Sabias como eu, na noite anterior,
devorara homens, num rito onde tu foras parte integrante. Por isso, nós não
éramos nós, mas outros renascidos, transmutados.
Meu corpo alimentado e o teu ressuscitado envolviam-se agora grávidos do universo, festejavam a vida
sagrada, banhada pela força da criação, que atualizávamos incorporando a alma
coletiva.
Escutáramos quietos os murmúrios
da terra e sentíramos o calor do Sol invadir-nos e ordenar-nos o nascimento dessa
vida em círculos de esplendor. Quedámo-nos em serenas carícias, misturando
nossos deliciosos cheiros naturais com a poeira das estrelas, sentindo-nos
gratos pela multiplicidade, pela grandeza da existência.
Mas porque a entropia nos
mata, chegou também o inexorável momento da minha partida para maravilhar e ser
maravilhada no mundo: saí do teu colo doce e seguro e submergi nas águas mais
profundas, aquelas de que sou feita, e rastejei, qual reptil ondulante até meus
membros enlameados me soltarem para a terra, lançando-me numa corrida
vertiginosa; e subitamente, estava plena de graça e eu, qual garça, voava pelo
mundo fertilizando-o de alegria e esperança.
Por fim, ofegante de prazer,
saltei para o teu confiante regaço. Vinha mais forte, mais mulher, mais bela,
pois trazia em mim a teleonomia da vida e tu, meu astro sábio, envolveste-me
numa simbiose que ficou inscrita nas minhas células ad aeternum.
Parte tu agora, meu bem,
dissipa-te, interage e volta para eu saborear, autopoieticamente, a história do
universo no teu corpo.
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