Se fôssemos Deus e
decidíssemos criar o universo, fá-lo-íamos sem o mal em todas as suas
vertentes: evitaríamos a morte, a dor, a ignorância, o ódio. Seríamos todos eternamente
saudáveis, sábios, amigos.
E sendo assim, o que haveria
para fazer? A nossa existência está tão centrada no combate ao mal ou, visto de
outra perspetiva, na procura da perfeição, que se torna muito difícil conceber
o que seria a vida sem essa luta.
É estranho, mas não consigo
pensar em nada para fazer no paraíso, pois é como se deixássemos de ter
necessidades, sendo portanto inútil, qualquer ação. E essa inatividade cheira-me
a morte.
Nem sei como conseguiríamos conciliar o prazer
do nascimento de uma criança sem a morte dos mais idosos. Onde caberíamos todos?
A ausência da morte implicaria a anulação de outros nascimentos, a não ser que
se encontrasse uma forma de existência sem matéria.
Será um grande mistério conseguir
criar um paraíso deveras aliciante, onde a vida faça sentido. Estou de tal
forma entranhada nesta vida terrena, que me parece impossível imaginar outra
sem ser a partir desta. Mas a vida há-de ser muito mais perfeita, esplendorosa,
cativante noutras esferas, para além da nossa.
Espero sinceramente que Deus
seja essa entidade superior, capaz de coisas infinitas. Isso seria uma coisa
magnífica.
Mas, não deixará de ser
também maravilhoso saber viver esta vida, aqui, descobrindo que o ágape nos dá
pedacinhos de felicidade.
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