Quando uma música entra nas minhas
células e não sai, ando a trauteá-la por tudo e por nada. Invade-me e brota
como respiração, tornando-se parte do meu ser.
Essa música cresce em mim
como uma força maior, ultrapassa a minha decisão e, por isso, surpreende-me a
qualquer momento como impulso inevitável.
Isto acontece-me sobretudo
com My Way e, ultimamente, com O Rondó da Carpideira.
Fui levada para a música da
terra, das onomatopeias e dos xailes pretos, ao som da excelente seleção de imagens
de Giacometti, tão bem recriadas no piano e no saxofone, numa noite bem
luminosa, no CCC.
Fiquei envolta com o cheiro
do canto do povo, uma melopeia ao ritmo do trabalho, das estranhas voltas da
vida.
Comunguei, assim, estas
raízes, estes ritos, que marcam os dias e revelam a sabedoria do povo. Gente que
cava melhor comandada pelo “mandador”, que apregoa ao vento o peixe e o azeite,
que fala com os animais e reza a cantar.É gente que sabe da necessidade de
libertar a dor, nem que seja com a ajuda da carpideira, que nos move a soltar a
tristeza da perda da vida.
Dada a minha dificuldade em
chorar, este carpir deu voz ao meu choro calado, sem lágrimas, ficou dentro de
mim como uma ladainha, que me embala e me acalenta.
Obrigada, gente do campo,
que sabes cantar a vida e me impregnas melodias e ritmos da natureza da terra,
dos animais e me ajudas a aceitar a minha natureza.
Obrigada, Giacometti, por
saberes olhar para os sons do homem e da mulher portugueses, valorizando toda a
sua tradição popular.
Obrigada, Mário Marques,
Daniel Bernardes e Gonçalo Tarquínio pelos voos criados em redor dessa música.
Deram-me vontade de dançar a noite inteira numa roda de escamisada.
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