Um manipulador sabe
arvorar-se em vítima. Vítima da falta de sorte, dos cônjuges anteriores, da
doença, de experiências negativas ocorridas na infância…
E este estado de vítima é
usado para justificar todos os seus medos, a sua falta de entrega a sua
ausência de compromisso. Não admite ser questionado sobre nada, porque tudo o
perturba e lhe causa mal-estar, tudo se transforma em crítica destrutiva. Raramente,
procura verificar a exatidão do que lhe é dito, ficando preso na sua própria
interpretação. O seu egocentrismo torna-o incapaz de se pôr no lugar dos outros
e de os compreender em profundidade.
Relato de uma vítima (adaptado):
[Surgiam crises impressionantes
quando eu o punha em questão. Então receando as suas reações, resolvia os
problemas discreta e calmamente. Se eu lhe falasse de uma simples atitude, de
um desejo, se lhe propusesse alguma alteração da rotina, as suas reações eram
sempre as mesmas: ameaças de suicídio, auto-desvalorização, insónias… Seguia-se
sempre um período de silêncio em que qualquer diálogo era impossível:
visivelmente ele sofria!
Eu estava consciente do seu
egocentrismo e apercebia-me da discrepância entre o seu discurso e as suas
atitudes: citava frases e textos extremamente adequados e lúcidos, mas não
fazia a mínima prova dessa psicologia aquando a vida quotidiana lho exigia. O desfasamento
entre o seu discurso e os seus atos deixava-me verdadeiramente baralhada, perplexa.
Eu sofria, aquele silêncio
parecia-me castigo, censura, um aviso para que da próxima vez não o
perturbasse. Sentia-me culpada todas as vezes que fazia uma observação e cada
vez mais a evitava.]
Mas porque o manipulador se
apresenta simpático, altruísta, sedutor, culto, tímido, possibilita que se
passem bons momentos a seu lado. Torna-se desejável. Torna-se também, por isso
mesmo, muito difícil reconhecê-lo como manipulador, especialmente, porque ele
próprio não se reconhece como tal. Aliás, necessita de assegurar uma imagem
positiva de si próprio à qual a sua manipulação é alheia.
Gera-se um ambiente de
violência psicológica, que é exercida sem testemunhas.
Resta à vítima aprender a
identificar e reconhecer as caraterísticas do manipulador e apostar no melhor
remédio para evitar relações tóxicas: o amor por si própria.
Adaptado de: Nazare-Aga,
Isabelle, (2001) “Os Manipuladores do Amor”, Pergaminho, Cascais
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