domingo, 31 de maio de 2015

A música na minha vida



O meu gosto pela da música e a sua relação com a Orquestra Ligeira da Vestiaria

Dos cinco sentidos que nós temos, a audição é o que primeiro nasce, ainda no ventre materno. Por saber disto, durante os nove meses de gravidez dei muitos banhos musicais à minha filha e, por isso, ela ficou destinada a amar a música.

E onde é que eu bebi este amor pela música? Decerto nas canções de embalar dos meus pais, nos ritmos africanos que experienciei ao vivo em Angola, no que passava na rádio e na TV…

Mas uma das experiências mais enriquecedoras para mim foi a do ensaio musical, que acontecia aqui, nesta casa, uma vez por semana, à noite, na companhia de pessoas muito, muito boas!...

Trata-se de pessoas boas, porque tiveram ideias pioneiras em termos musicais na nossa região e por tudo aquilo que criaram:

Criaram uma escola de música, na qual se valorizava a aprendizagem dos conteúdos musicais e do instrumento de uma forma sistemática e coerente, como algo fundamental para o desenvolvimento de crianças e adolescentes;

Criaram-nos como pais, numa dedicação estrema Alberto Campos e Marcos Assunção, que apostaram em nós para a formação da referida escola. Cuidou de nós, também José Guimarães, o primeiro professor a acreditar neste projeto;

Criaram-nos a possibilidade de ocuparmos bem o tempo, coisa que parece simples, mas que todos sabem que sempre foi e é difícil…;

Criaram-nos a possibilidade de aprendermos gratuitamente uma das artes mais ancestrais e harmoniosas da humanidade;

Criaram-nos a possibilidade de nos prepararmos para exercer uma profissão no futuro, musical ou não. Pois o saber trabalhar em conjunto, o saber que o todo depende da qualidade de trabalho de cada um, são fatores essenciais para um bom desempenho;

Criaram-nos a possibilidade de nos envolvermos, pois geraram-se genuínas relações de amizade, que apesar de não serem alimentadas diariamente, ficaram para sempre nos nossos corações (e esta nossa reunião é bem prova disso!).

E foi então, que, um pouco inspirados pela orquestra de Ponte de Sôr, que nos brindou com as suas maravilhosas atuações, nos lançámos, há 30 anos atrás, na grande aventura de iniciar a primeira orquestra ligeira da região.

Ousámos sair da rotina e roubar ao nosso tempo livre (e foi sempre ao nosso tempo livre, nunca foi à escola, pois todos sabemos que a música melhora as notas a matemática e não só…) mais um tempo para experimentarmos novas sonoridades um pouco mais em consonância com a fase da adolescência que atravessávamos.

E esta foi uma experiência que nos agarrou definitivamente à música, mesmo que nem todos tenhamos seguido a carreira musical profissionalmente, porque introduziu uma dimensão de prazer, que é essencial à prática de qualquer atividade para que ela seja verdadeiramente integrada em cada um de nós como benéfica.

Fomos pois beneficiados com o privilégio de tocamos em conjunto, de sermos tocados pela dedicação do maestro Marcos Assunção e de sermos nós próprios a tocar a sensibilidade dos mais novos que nos ouviram e desejaram também partilhar o que esta arte tem de melhor: envolvimento.


Recordo com especial carinho momentos maravilhosos como a nossa atuação na FIL, a qual nos deixou muito orgulhosos, o que faz muito bem ao coração.

E, apesar da música ser uma linguagem universal, digo obrigada, e não thank you, merci ou gracias, porque, de acordo com o “Tratado da Gratidão” de S. Tomás de Aquino”, só o “obrigada” contém a dimensão de vínculo, de comprometimento de continuar esta dádiva perante quantos partilharam comigo tão nobre arte.

Por isso, apesar de atualmente não tocar em nenhuma orquestra, todos os meus alunos levam também um bom banho de música para realizarem os seus trabalhos com satisfação e, muitas vezes, já são eles próprios que pedem para eu colocar aquela música boa (muitas vezes é Bach) para ficarem bem concentrados.

Obrigada, queridos amigos.

Obrigada, gente boa!

 

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