segunda-feira, 17 de junho de 2013

Rondó da Carpideira




Quando uma música entra nas minhas células e não sai, ando a trauteá-la por tudo e por nada. Invade-me e brota como respiração, tornando-se parte do meu ser.
Essa música cresce em mim como uma força maior, ultrapassa a minha decisão e, por isso, surpreende-me a qualquer momento como impulso inevitável.
Isto acontece-me sobretudo com My Way e, ultimamente, com O Rondó da Carpideira.
Fui levada para a música da terra, das onomatopeias e dos xailes pretos, ao som da excelente seleção de imagens de Giacometti, tão bem recriadas no piano e no saxofone, numa noite bem luminosa, no CCC. 
 
 
Fiquei envolta com o cheiro do canto do povo, uma melopeia ao ritmo do trabalho, das estranhas voltas da vida.
Comunguei, assim, estas raízes, estes ritos, que marcam os dias e revelam a sabedoria do povo. Gente que cava melhor comandada pelo “mandador”, que apregoa ao vento o peixe e o azeite, que fala com os animais e reza a cantar.É gente que sabe da necessidade de libertar a dor, nem que seja com a ajuda da carpideira, que nos move a soltar a tristeza da perda da vida.
Dada a minha dificuldade em chorar, este carpir deu voz ao meu choro calado, sem lágrimas, ficou dentro de mim como uma ladainha, que me embala e me acalenta.
Obrigada, gente do campo, que sabes cantar a vida e me impregnas melodias e ritmos da natureza da terra, dos animais e me ajudas a aceitar a minha natureza.
Obrigada, Giacometti, por saberes olhar para os sons do homem e da mulher portugueses, valorizando toda a sua tradição popular.
Obrigada, Mário Marques, Daniel Bernardes e Gonçalo Tarquínio pelos voos criados em redor dessa música. Deram-me vontade de dançar a noite inteira numa roda de escamisada.

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