quarta-feira, 3 de julho de 2013

Aceitar





“Amar não é aceitar tudo. Aliás: onde tudo é aceite, desconfio que há falta de amor.” Vladimir Maiakóvski
Fonte: pensador


“Aceitar-nos a nós mesmos, e à nossa história, é caminho para também aceitarmos os outros, com a sua história. Já S. Tomás de Aquino escrevia que não podemos entrar em relação de amizade com os outros, se não estivermos em relação de amizade connosco mesmos. Se estamos descontentes e em conflito connosco mesmos, tristes e desanimados, também o estaremos com os outros. Cada um dá o que tem. Damos amor, paz e alegria, se tivermos amor, paz e alegria. Damos amargura e conflito, se estivermos na amargura e em conflito.

 A alegria de ser amados é o fundamento da nossa dignidade de pessoas humanas, de filhos de Deus, é fonte da aceitação e da confiança em nós mesmos. É a libertação de toda a tristeza e medo. Faz-nos aceitar os outros com uma justa confiança neles.”


Aceitar o outro é recebê-lo afetivamente. Este acolhimento requer a capacidade prévia de me aceitar, o que é tarefa árdua, para mim, eu, que desenvolvo este esforço interior constante para largar o perfecionismo e aprender a lidar com os meus erros.

É como se a liberdade, que Deus me dá para crescer no amor, fosse um problema, pois nem sempre são claros os caminhos a percorrer. Chego a pensar que tudo seria melhor, se Deus nos criasse de tal forma perfeitos que nunca pecaríamos, sendo assim dispensável essa liberdade. Mas, como Rousseau diz, o homem nasce naturalmente bom; é a sociedade que o corrompe.

Efetivamente, nascemos com a possibilidade da livre escolha entre o bem e o mal, mas temos de aceitar que possamos (demasiadas e repetidas vezes) optar pelo segundo, sendo difícil evitar julgamentos pessoais ou dos outros. No entanto, por mais abrangente que seja o nosso conhecimento, não temos a capacidade de considerar todos os fatores que envolvem cada ser e a sua ação. Talvez seja por isso que a nós, nos seja dada a missão de saber aceitar o processo de cada um, não para desculpar as fraquezas (aceitar seria então aprovar), mas para reconhecer humildemente a força do amor de Cristo na luta por um mundo com mais amor, mais justiça.

Surgem-me como estranhas as palavras de Cristo acerca da justiça, pois parece fascinar-se mais com o arrependimento dos pecadores do que com os que procuram trilhar diariamente os caminhos do bem (Cf. Parábola do Filho Pródigo). Mas não deixo de reconhecer que, mais do que evidenciar o que já é constante, Jesus provavelmente quererá manifestar uma imensa alegria pelo encontro com o homem/mulher renascido, graças ao Seu ágape.

Acontece que, apesar de racionalmente ter consciência de que os atos da pessoa não são a pessoa, nas situações em concreto, torna-se complicado discernir o correto na relação com o diferente. Acabo por ansiar por um percurso mais fácil, que é o de me tornar amiga apenas dos mais semelhantes e desejar ainda que progressivamente o sejam cada vez mais. Aliás, não serão casuais as intervenções terapêuticas para problemas de autismo, nas quais se imita o comportamento do doente.

Mas, há uma energia mais forte nesta emoção de aceitar o outro com toda a sua identidade e não como gostaríamos que ele fosse. Há um tesouro escondido em cada orientação espiritual, em cada pensamento, cada sentimento, que nos enriquecem profundamente se os soubermos aceitar, pois deixamos de estar centrados em nós próprios para nos abrirmos ao maravilhoso dos outros.

“Quem não sabe aceitar as pequenas falhas das mulheres [e dos homens] não aproveitará suas grandes virtudes.” Khalil Gibran
Fonte: pensador



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