sábado, 12 de julho de 2014

Adeus, meu amor




Terra, 11- 07- 2014
Meu querido,

Não sabes quantos e quão intensos foram os beijos, que te dei esta noite nem como nos encontrámos.

A partilha das tuas dores uniu-me a ti por serem comuns às minhas e criou uma estranha força, que parecia explodir no meu peito. Por isso, as minhas mãos quiseram despir-te desse sofrimento e levar-te pelo monte fora, na lambreta, até à praia das laranjeiras. 

Respirei-te, meu amor, e senti o teu olhar, as tuas palavras de desejo espalharem esse calor por todo o corpo. Desenhaste figuras mágicas nos meus seios envolvidos em areia e bebeste-os até à embriaguez. Tua anca dançou dentro de mim, fazendo-me subir à laranja mais doce e ficámos adormecidos a saborear o seu sumo.

Amanhecemos juntos, de mão dada, e sentámo-nos à sombra da escola. E foi aí que eu, fazendo mover a Terra, te revelei o meu apego sem fim. 

Mas tu esqueceras a noite e já só falavas nas coisas do teu dia, onde eu, perdida, não encontrava espaço. Acaso não sentias ainda o meu corpo a vibrar? Como pudeste não me abraçar? Como se acabaram as palavras queridas e te empenhaste em esclarecer, (como se já fosse teu hábito!) uma forma de eu estar contigo sem estar?

Ó meu Deus, não viste a minh’ alma sufocar e afastaste-te apressado, sem olhar para trás. Minutos depois, cruzámo-nos e tu chamaste-me para ao pé de ti. Mas já não eras só tu e eu fiquei ali, desamparada, a assistir ao vosso namoro.

Ao entardecer, percorri a nossa praia e caí sem força, sem força nenhuma, na areia ainda quente. A espuma das ondas aconchegou-se a mim e embalou-me até ao barco à vela, onde eu parto sem destino.

Adeus, meu amor. Se me voltares a encontrar, por favor, não me fales das dores que escondes nem tentes desvendar as minhas, pois não quero de novo sentir-me presa, arrastada por um fio invisível, atrás de ti como uma velhinha. A minha capacidade para renascer das cinzas é fraca, é um processo muito doloroso e demorado. 

E não me convides para fazer amor, pois se fosse comigo que deveras quisesses fazê-lo, não terias namorada, nem seria dela que sentirias falta. Protege-a, pois tu precisas de alguém frágil para apoiar. Eu, apesar das feridas, guardo um amor incomensurável para dar a quem me conseguir lembrar.

Um beijo com sabor a laranja

FloR




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